segunda-feira, 29 de abril de 2013

Saúde acionará a Justiça se confirmar monopólio nos preços de órteses e próteses

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que a pasta pode acionar o Ministério da Justiça caso sejam identificados indícios de que os preços praticados pelo uso de próteses e órteses em 20 hospitais caracterizarem monopólio.
 
O governo anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar suspeitas de irregularidades e cobranças indevidas em implantes de próteses (usadas como substitutas de membros e articulações do corpo) e órteses (aparelhos que servem para alinhar ou regular determinadas partes do corpo) feitos em 20 hospitais. Entre os hospitais a serem auditados, um é público e os demais privados ou filantrópicos.

Segundo Padilha, a partir de casos isolados que chegaram ao ministério, a força-tarefa vai investigar, em um primeiro momento, os hospitais com alto número de cirurgias para órteses e próteses ortopédicas e cardiovasculares e que têm grande proporção de cirurgias múltiplas ou sequenciais (quando uma mesma pessoa recebe mais de uma prótese).

“Isso pode acontecer em um paciente politraumatizado, mas [tem ocorrido] em uma proporção bastante elevada”, disse, ao destacar que alguns hospitais chegam a registrar mais de 90% das cirurgias em questão como múltiplas ou sequenciais.

“Montamos essa força-tarefa, que vai fazer uma primeira avaliação muito detalhada nesses primeiros 20 hospitais. A partir daí, podemos identificar novos mecanismos de aprimoramento e, sobretudo, de regulação. Queremos identificar, nessa cadeia que começa pela distribuição de órteses e próteses, passa pela aquisição pelo hospital privado e pelo médico que indica, se essa elevação do preço se justifica”, completou.

Por Paula Laboissière | Agência Brasil

20 hospitais serão auditados no uso de OPMEs

Objetivo é descobrir o motivo de distorções que impactam o orçamento da saúde. Se comprovados abusos, o governo pretende tomar medidas para regular preços no mercado


O Ministério da Saúde (MS) fará auditoria com foco em 20 grandes hospitais para apurar a suspeita de fraudes e superfaturamento na implantação de próteses e órteses em pacientes.

A decisão foi tomada após o Departamento Nacional de Auditorias do SUS (Denasus) com o objetivo de descobrir o motivo de distorções que impactam o orçamento da saúde pública e, principalmente, dos planos privados, além de verificar se as cirurgias cobradas têm sido, de fato, realizadas. Se irregularidades forem comprovadas, o Denasus poderá tomar medidas como a solicitação de ressarcimento do recurso público utilizado indevidamente.

A investigação parte de indícios de irregularidades colhidos pelo ministério, a começar pelo excesso de procedimentos em hospitais. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, conforme a unidade, de 54% a 99% das cirurgias são múltiplas ou sequenciais, ou seja, para aplicar mais de um item no corpo do paciente. É um percentual muito acima do parâmetro de 20%, conforme determinado em câmara técnica e publicado em portaria da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde. Além disso, tratam-se hospitais gerais, onde ocorrem procedimentos de diversas áreas, não só de cardiologia.

O Denasus identificou, ainda, que esses 20 hospitais onde haverá a atuação da força-tarefa – 19 não-públicos e um público – possuem número elevado de cirurgias múltiplas, cirurgias em politraumatizados e cirurgias sequenciais nas áreas de cardiologia e traumato-ortopedia. Ou seja, alto índice de cirurgias em que mais de uma prótese ou órtese é implantada em um paciente. A lista não foi divulgada até o momento. 

Normas

Os auditores vão checar se os hospitais cumpriram regras como registrar o número da prótese ou órtese no prontuário dos pacientes. Para comprovar a implantação, também é obrigatório armazenar exames de imagem feitos antes e após a cirurgia.

De acordo com o Estado, os trabalhos vão ser feitos em 60 dias pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), em parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Outro foco são as disparidades nos valores praticados pelas empresas. Os fabricantes têm de registrar preços de referência na Anvisa, que aprova os produtos. Porém, não há limitação quanto ao valor cobrado no mercado. Segundo Padilha, o hospital cobra do plano de saúde, às vezes, o dobro do registrado na tabela da agência.

A auditoria tentará identificar eventuais causas das variações, como a baixa concorrência em alguns setores, ganhos exorbitantes na cadeia entre o produtor e o hospital e, possivelmente, a formação de monopólios, o que motivaria processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça.

A implantação de órteses e próteses, somadas às despesas com material, internação e cirurgia, custaram aos planos de saúde nada menos que R$ 36 bilhões em 2012, conforme a ANS. O montante é bem inferior no SUS, apesar da clientela imensamente maior. Segundo Padilha, o ministério gastou R$ 1,059 bilhão no ano passado, sendo 88% do valor (R$ 941,3 milhões) referente a procedimentos ortopédicos e cardíacos. Não por acaso, a auditoria pretende focar essas duas especialidades. A aplicação é muito comum em pacientes politraumatizados ou com problemas coronarianos.

Na terminologia do Ministério da Saúde, todos cabem na sigla OPMEs (órteses, próteses e materiais especiais). A aprovação, conforme critérios de qualidade, é feita no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O QUE SÃO PRÓTESES – São componentes artificiais utilizados para substituir segmentos ou partes de segmentos corporais perdidos por amputações de origem traumática ou não. Após a amputação, a utilização de uma prótese oferece uma imagem corporal normal, ajudando o indivíduo a desenvolver maior confiança e habilidade física, melhorando, assim, sua qualidade de vida.

O QUE SÃO ÓRTESES – São dispositivos aplicados externamente ao corpo para modificar as características estruturais ou funcionais do sistema neuromusculoesquelético, podendo ser utilizadas para estabilizar ou imobilizar, impedir ou corrigir deformidades, proteger contra lesões, facilitar a higienização, o posicionamento e assistir a função dos membros superiores, inferiores e tronco, decorrentes de lesões, doenças, alterações congênitas ou condições ligadas ao processo do envelhecimento.

*Informações atualizadas às 10h39, do dia 26/03/2013

Por Saúde Web

Certificado de qualidade para OPMEs é aprovado

Material deve conter os documentos emitidos pelo fabricante ou pelo importador, com especificações técnicas, número de série e lote. Informações devem ser fornecidas ao usuário juntamente com o laudo 


A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio aprovou, na quarta-feira (24), proposta que cria certificado de qualidade e de garantia para próteses, órteses e outros materiais implantáveis de uso médico. Segundo o texto, o material deverá ser acompanhado de documentos emitidos pelo fabricante ou pelo importador contendo especificações técnicas do produto, número de série e lote e nome do fabricante.

Essas informações deverão ser fornecidas ao usuário juntamente com o laudo do procedimento, e os serviços de saúde deverão manter cópia desses documentos.

 A proposta foi aprovada na forma do substitutivo do deputado Ubiali (PSB-SP) ao Projeto de Lei 116/11, do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS). 

Segurança ao profissional 

Os serviços de saúde também deverão oferecer aos usuários, após receberem as órteses ou próteses, laudo do procedimento realizado com o nome do paciente, número de seu prontuário, data da cirurgia, nome e assinatura do cirurgião responsável, nome do produto, número de série e lote do produto e nome do fabricante. “A criação de um certificado de qualidade é uma medida essencial para a proteção à saúde do usuário desses materiais, assim como para dar segurança ao profissional de saúde sobre a procedência e a adequação do material que utiliza”, argumentou Ubiali.

A proposta original atribui ao fabricante ou importador a responsabilidade pelas informações relativas à especificação do material, nome do paciente, número de seu prontuário, data da cirurgia, nome e assinatura do cirurgião responsável.

Isso, explicou Ubiali, motivou a apresentação de um substitutivo, pois a obrigação seria “inaplicável”. “Parte dessas informações não é de responsabilidade do fabricante ou importador, mas sim do médico. Assim, nome do paciente, número de seu prontuário, data da cirurgia, nome e assinatura do cirurgião responsável somente poderão ser colhidas de laudos médicos e fornecidos pelos prestadores de serviços hospitalares”, destacou o deputado.

Combate a fraudes

O Departamento Nacional de Auditorias do SUS (Denasus) aponta distorções que impactam o orçamento da saúde pública na recomendação desse tipo de material. Em março deste ano, o Ministério da Saúde (MS) anunciou que fará auditoria com foco em 20 grandes hospitais para apurar a suspeita de fraudes e superfaturamento na implantação de próteses e órteses em pacientes.

A estimativa é de que, conforme a unidade, de 54% a 99% das cirurgias são múltiplas ou sequenciais, ou seja, para aplicar mais de um item no corpo do paciente. É um percentual muito acima do parâmetro de 20%, conforme determinado em câmara técnica e publicado em portaria da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde. Além disso, tratam-se hospitais gerais, onde ocorrem procedimentos de diversas áreas, não só de cardiologia.

A implantação de órteses e próteses, somadas às despesas com material, internação e cirurgia, custaram aos planos de saúde nada menos que R$ 36 bilhões em 2012, conforme a ANS. O montante é bem inferior no SUS, apesar da clientela imensamente maior. Segundo Padilha, o ministério gastou R$ 1,059 bilhão no ano passado, sendo 88% do valor (R$ 941,3 milhões) referente a procedimentos ortopédicos e cardíacos. 

Tramitação

A proposta tramita em caráter conclusivo e já havia sido aprovada pela Comissão de Seguridade Social e Família. Agora, segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. 

As próteses são aparelhos que substituem membros ou órgãos do corpo humano, como marca-passos, aparelhos auditivos, próteses articulares e dentárias. Já as órteses são aparelhos ou peças que apenas corrigem ou complementam a função de membros ou órgãos, como talas, palmilhas ortopédicas, joelheiras e munhequeiras.

Por Agência Câmara Notícias

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Redução de carga horária para enfermeiros entra em debate

A Comissão de Legislação Participativa promove na terça-feira (9), a partir das 14 horas, seminário sobre a regulamentação da jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem. Um dos objetivos do evento é pedir a votação do Projeto de Lei 2295/00, que fixa em 30 horas a carga de trabalho semanal de enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e parteiras, e está pronto para ser analisado pelo Plenário.

No setor privado, a carga de trabalho da categoria hoje é a da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT – Decreto-Lei 5452/43), fixada em 44 horas semanais. No setor público, muito estados e municípios já adotam 30 horas.
  
A intenção do projeto é assegurar isonomia dessa categoria com outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. “Não há intenção de criar privilégios, mas reconhecer a importância e a singularidade da natureza dos serviços desses profissionais da saúde”, afirma o deputado Dr. Grilo (PSL-MG), que propôs o seminário.

“Hoje os profissionais da enfermagem são submetidos a cargas horárias altíssimas, recebem muito pouco e, muitas vezes, têm que acumular dois, três empregos para ter um salário muitas vezes pequeno. Até somando esses dois, três empregos, é uma remuneração muito baixa”, acrescenta o parlamentar.

As deputadas Rosane Ferreira (PV-PR) e Carmen Zanotto (PPS-SC), que também são enfermeiras, vão mediar o debate sobre a relação entre as condições de trabalho dos enfermeiros e o adoecimento dos profissionais. A exposição do tema ficará a cargo da deputada estadual Enfermeira Rejane (RJ). A deputada estadual Valéria Macedo (MA) e a secretária municipal de Saúde de Aracaju (SE), Goretti Reis, serão as debatedoras.

Ao final do evento, os parlamentares entregarão ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, um pedido de inclusão do PL 2295/00 na pauta do Plenário da Câmara. O evento será realizado no Auditório Nereu Ramos.

Por Agência Câmara

O fim da criação indiscriminada de escolas de medicina

Eis o desenho do problema: o Brasil possui mais escolas de medicina que a China. No ranking mundial, ocupamos a segunda colocação, atrás apenas da Índia, que possui população seis vezes maior que a brasileira. Para chegar às atuais 197 faculdades de medicina – muitas delas de qualidade bastante questionável –, o Brasil assistiu à proliferação aleatória de instituições de ensino a partir da década de 90. De lá para cá, o aumento no número de escolas foi de 137%, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Ainda de acordo com a entidade, o total de médicos que atua no País atingiu quase 390 mil no final do ano passado, quantidade mais que suficiente para atender a todos os brasileiros. Contudo, 73% deles estão trabalhando nas regiões Sul e Sudeste. No Maranhão, por exemplo, existe meio médico para cada mil habitantes, enquanto que no País como um todo, este índice chega a dois profissionais para cada mil pessoas.

Para desmontar aquilo que alguns especialistas classificam como “balcão de negócios” dos cursos de medicina e também para melhor distribuir os profissionais pelo Brasil, o Ministério da Educação (MEC), com auxílio de um estudo feito pelo Ministério da Saúde (MS), baixou, no início de fevereiro, a Portaria nº 2/2013, que estabelece os novos critérios para abertura de cursos de medicina e expansão do número de vagas daqueles já existentes. 

A regulamentação será utilizada para analisar a fila de 70 pedidos de criação de novas escolas que está parada no MEC. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, avisou que a maioria das solicitações feitas será negada. Para futuros pedidos, outras diretrizes serão publicadas pelo governo.

Os critérios listados na portaria levarão em conta a demanda social por médicos em cada unidade da Federação, com base em dados atualizados anualmente pelo MS. O Brasil é o quinto país do mundo em número absoluto de médicos, que representam 19% dos que atuam nas Américas. Mas eles estão mal distribuídos e poucos vão para o interior. A pior situação é a da Região Norte (taxa de 0,9 médico por mil habitantes), seguida por Nordeste (1,19) e Centro-Oeste (1,99). A melhor situação fica no Sudeste (2,61) e Sul (2,03).

O MEC também observará a infraestrutura de equipamentos públicos e programas de saúde existentes e disponíveis no município de oferta do curso. Serão considerados, entre outros itens, o número de leitos disponíveis por aluno — deve ser maior ou igual a cinco; o número de alunos por equipe de atenção básica maior ou igual a três; existência de leitos de urgência e pronto-socorro. A portaria também determina que a avaliação do MEC para concessão da autorização depende da existência de pelo menos três programas de residência médica nas especialidades prioritárias (clínica médica; cirurgia; ginecologia-obstetrícia; pediatria; medicina de família e comunidade).

O governo deverá lançar editais de chamamento para interessados em implantar escolas de medicina em localidades definidas com base nos critérios da nova regulamentação. Os vencedores das licitações poderão ter acesso a recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiarem os projetos.

A reportagem da Revista FH tentou por diversas vezes ouvir os ministérios da Educação e da Saúde sobre a estratégia de descentralização da assistência médica. Enquanto o MEC não respondeu as perguntas enviadas por e-mail, o MS afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que somente se pronunciará depois que o estudo – aquele mesmo utilizado pelo MEC para editar a portaria – estiver totalmente finalizado.

Mercado de cursos

A intenção do governo em interromper a expansão de cursos de baixa qualidade foi muito bem recebida pela comunidade médica. Tanto o CFM, quanto o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), elogiaram a medida que cria barreiras para abertura de novas faculdades. O 1º secretário do CFM, Desiré Callegari, afirma que as instituições que não possuem corpo docente qualificado e não oferecem hospitais universitários devem sofrer restrições. “Queremos diminuir e até fechar faculdades que não ofereçam uma boa formação para o profissional”, opina.

O presidente do Cremesp, Renato Azevedo Junior, diz que a abertura de cursos no Brasil funcionava como moeda de troca política de prefeitos, deputados e senadores. “É muito forte o lobby que existe no Congresso por parte das escolas privadas”, aponta. O médico se diz muito preocupado com a qualidade dos cursos existentes. “Nos últimos 10 anos, cresceu mais de 300% o número de processos por erro médico no Cremesp”, conta. Apesar de classificar a nova portaria como um avanço, ele afirma que o MEC deveria estar preocupado em fechar escolas de medicina.

Quem vai?

A criação de escolas de medicina em localidades carentes de médicos é vista pelos especialistas como uma equação bastante complexa. Para o diretor do curso de medicina da Faculdade Santa Casa de São Paulo, José Eduardo Dolci, “não se cria uma faculdade de medicina onde não existe nada”. Com isso, ele quer dizer que a infraestrutura da cidade que receberá a nova instituição precisa ter condições de atrair um corpo docente qualificado. “A escola de medicina é criada em função de um grupo de professores e médicos competentes que saibam e tenham desejo de ensinar”, opina.

Os fatores de fixação de médicos em determinadas regiões não passam exclusivamente pela questão financeira. Dolci acredita que o conceito é mais amplo e envolve outros componentes. “O médico vai procurar condição de trabalho, reconhecimento, condições dignas para sua família viver e salário, nesta ordem”, diz. Ele clama pelo plano de carreira médico como uma alternativa. “O plano vai dar um salário digno e perspectiva de vida, mas se não der condições de trabalho, o médico não irá para lugares mais distantes”, avalia. 

Callegari, do CFM, vê como uma incógnita se a criação de escolas de medicina em localidades com deficiência de assistência fixará médicos nestas regiões. Azevedo Junior, do Cremesp, ressalta que os profissionais não atuam fora do eixo Sul-Sudeste por falta de condições de trabalho.

390 mil médicos atuam no Brasil
73% deles estão trabalhando nas regiões Sul e Sudeste
2, 64 médicos por mil habitantes estão no estado de São Paulo
0,5 médico por mil habitantes no Maranhão
1, 95 médico por mil habitantes no interior de São Paulo
4,48 médicos por mil habitantes na capital paulista

Por Milton Leal | Especial para revista FH

Pacientes monitorados dia e noite à distância pela internet

Tomar o remédio na hora certa, medir a pressão arterial, praticar exercícios diariamente são algumas das atividades que a maioria dos brasileiros só segue a risca se tiver alguém pegando no pé. 

Agora, o mercado oferece um aparelho no qual o médico do consultório consegue monitorar tudo o que está acontecendo na casa do paciente. Essa plataforma de telemedicina foi desenvolvida pela UniT Care Saúde. 

O serviço consiste em oferecer aparelhos de captura de sinais vitais como pressão sanguínea, oximetria, temperatura, peso, nível de glicemia, que são conectados via bluetooth a um receptor que transmite as informações a uma central onde os dados são analisados e armazenados – por sinal de internet ou rede celular, a exemplo de um celular comum. 

Dessa forma, o paciente é monitorado 24 horas por dia, sem interrupção. Atualizados a cada 30 segundos, os dados podem ser acessados pelos profissionais autorizados de qualquer computador com acesso à internet, tablet ou smarthphone, em tempo real e de forma eficaz. Todos os dados são criptografados e a segurança da informação é tratada como prioridade.

“O objetivo não é substituir a consulta médica, mas sim complementar o atendimento oferecendo uma orientação de qualidade à distância”, diz o CEO da Unit Care Saúde, Luiz Tizatto. 

A ferramenta pode ser usada tanto em monitoramento de pacientes crônicos que sofrem de diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, doença broncopulmonar obstrutiva crônica, como em tratamento de antibioticoterapia, por exemplo.

Com tecnologia inteiramente nacional, a plataforma de telemedicina foi desenvolvida pela i9access Tecnologia, empresa do Rio Grande do Sul, cujos proprietários são professores da Universidade Federal daquele estado. 

Além de tecnologia para home care, a empresa provê outros módulos para a plataforma (teleeletrocardiologia, teleradiologia, teleultrassonografia), como também um sistema multimídia para salas de cirurgia inteligentes, MIR – Multimedia Integrated operating Room.

O telemonitoramento de pacientes permite uma total conectividade, na medida em que algumas questões podem ser pré-programadas. O visor irá registrar mudanças como o aumento de pressão sanguínea, e acionar a Central que deverá intervir e checar os sintomas do paciente ou indagar se ele tomou sua medicação na hora certa. 

Em caso de alterações substanciais, uma equipe médica entra em contato imediatamente e, se necessário, faz uma visita de emergência ao paciente.

Por Carolina Marcelino | Brasil Econômico

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Como evitar o desperdício de recursos nos serviços de diagnósticos?

Em debate, representantes do setor concluem que o excesso de exames está ligado à má formação médica e à pressão, muitas vezes, por parte do paciente e da indústria.

Como mudar o foco da doença para valores como promoção e prevenção, sem que haja desequilíbrios de recursos, uma vez que o modelo brasileiro ainda se sustenta com base na quantidade de procedimentos? A pergunta norteou o IT Mídia Debate desta terça-feira (03/04), realizado na sede da IT Mídia. 

Partindo da constatação de que o envelhecimento da população, o avanço da tecnologia e a importância da prevenção impulsionam cada vez mais a demanda por exames de diagnósticos, representantes de diferentes elos do setor dialogaram sobre as possíveis soluções para uma otimização de recursos evitando, assim, o excesso de exames – fator este que, além de onerar o sistema, pode prejudicar a saúde do paciente. 

Apesar de não haver nenhum levantamento que mensure o real impacto nos recursos de exames desnecessários, alguns fatores claramente influenciam essa tendência como é o caso das dezenas de marcadores lançados pela indústria farmacêutica todos os anos, que são disponibilizados para a prática médica.

“Um médico mal informado e influenciado pelo marketing da indústria com certeza vai começar a solicitar esse tal procedimento. É preciso entender que sem evidências científicas não se deve solicitar exame de laboratório, sobretudo quando não se sabe o que fazer com o resultado”, enfatiza Wilson Shcolnik, diretor de Acreditação e Qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). 

A mesa debatedora reforçou que os exames de diagnósticos são importantes, no entanto, é preciso ter critérios clínicos para solicitá-los, o que muitas vezes não acontece por falta de formação médica adequada. Além disso, há também a pressão por parte do paciente, hoje, munido de informações, principalmente, provenientes do Google ou Dr. Google, como os executivos o apelidaram. 

Saber dosar o limiar entre acesso e excesso é notadamente um grande desafio para os gestores. “Quando se fala em promoção e prevenção em saúde é preciso se acostumar a ouvir falar de exames normais. Muita gente atribui isso a custos para a cadeia de saúde, esquecendo que na verdade esses exames, na maioria das vezes, evitam outros custos que seriam imputados ao sistema. O exame normal tem um valor e precisa ser considerado. É claro que não estou falando em excesso, o que deve prevalecer é a medicina baseada em evidencias”, considera Shcolnik. 

Possíveis soluções

Muito se discute sobre qual caminho seguir, mas ainda não tem um modelo de sucesso a ser copiado. De acordo com o diretor de patrimônio e finanças da Associação Paulista de Medicina (APM), Murilo Rezende Melo, só há uma certeza: não se pode tirar a autonomia do médico na hora de solicitar exames.

Outros fatores foram largamente mencionados como setas indicativas para o uso racional dos recursos nos serviços de diagnósticos que acaba envolvendo diretamente médicos, pacientes, laboratórios e operadoras de planos de saúde. 

Foram eles: novo modelo de reembolso e remuneração, aplicação de diretrizes clínicas – como as já existentes da Associação Médica Brasileira (AMB) -, investimentos em Tecnologia da Informação (TI) no sentido de integrar as informações, em educação continuada e programas de qualidade e acreditação por parte dos laboratórios. 

O presidente da Central Nacional Unimed, Mohamed Akl, “bateu na tecla” da importância da educação médica, deixando claro que a questão da remuneração não seja tão importante. 

“O valor da consulta não é importante, pois se aumentar o valor por atendimento o excesso de exames vai continuar existindo. Sabemos que 50 anos atrás o médico ficava 50 minutos com o paciente, tudo era analisado e um ou outro exame era pedido. Hoje, pela disponibilidade de exames no mercado é muito mais simples solicitar direto um pedido a dedicar longos minutos com o doente. O problema maior é que o profissional da saúde não se dá conta dos malefícios dessa ação”, diz Akl.
Segundo o executivo, entre 2008 e 2012 a Central Unimed aumentou sua carteira de clientes em 64%, alcançando mais de um milhão de beneficiários. Já o custo assistencial cresceu 130% – devido a altas tecnologias e pedidos de exames sem critérios. “Em ano 2000 era 1,67 exames por beneficiário, atualmente este número é de 10, 86”.

Outra possibilidade levantada pela mesa foi a do paciente pagar uma parte do exame solicitado. Entretanto, Melo, da APM, se posicionou contra. “Isso nos preocupada, porque os tipos de planos de saúde que mais cresceram são os mais baratos, considerados uma substituição do SUS, que tem melhorado e consegue fazer muito com a falta de verba que tem, mas não podemos penalizar o paciente”. 

Grande desafio

O melhor modelo para evitar desperdício pode ainda não ter sido descoberto pelo setor, mas enquanto isso a Alliar Medicina Diagnóstica faz uso da educação continuada em cidades do interior do Brasil para mostrar os lados positivos e negativos de se solicitar exames. 

“Evitando excesso fazemos com que outras pessoas tenham acesso. Mas como fazer isso é desafiador, por isso temos reuniões de educação continuada. Não podemos achar que a entrada do PET, que é um exame caro, por exemplo, vai resolver qualquer situação”, conta o diretor médico da Alliar, Francisco Maciel Júnior.

Outra ação da companhia é atrair residentes de outras especialidades que não a de diagnóstico por imagem para que tenham um melhor conhecimento sobre exames solicitados. 

*Com edição Verena Souza