quarta-feira, 21 de setembro de 2011

5 desafios de avaliar o desempenho em saúde


Relacionados com o programa de pagamento por performance os principais desafios esbarram em questões culturais, legais, éticas, de gestão e operacionais

 
No artigo anterior discutimos a importância da avaliação de desempenho dos prestadores de serviços de saúde, sejam eles no sistema público ou privado. Hoje traremos alguns desafios para implantar esta estratégia de gestão, principalmente quando associamos a programas de pagamento por performance. A grande parte destes desafios foi observada na prática pela minha equipe, mas também percebemos a semelhança com os desafios observados em outros países.

Durante o SAÚDE BUSINESS FORUM 2011, que ocorrerá nesta semana na Bahia, discutiremos isso pessoalmente.

Dividi os principais desafios observados em: culturais, legais, éticos, de gestão e operacionais.

Os desafios culturais mais comumente observados são o falso conforto do status quo e a dificuldade de engajar o médico na agenda da qualidade. Considero este último um dos maiores desafios, pois muito pouco acontece no sistema de saúde sem uma prescrição médica, sendo, portanto, o envolvimento deste profissional a condição para termos um sistema de saúde de alta performance.

Os desafios legais estão mais relacionados ao processo de regulação da ANS e aos modelos de contratação do serviço público que podem dificultar ganhos diferenciados. Dentro do processo de regulação da ANS temos a obrigatoriedade pelo uso de tabelas padronizadas (TUSS). O uso de tabelas padronizadas de honorários médicos torna mais complexo a reforma no modelo de remuneração médica, principalmente quando se quer migrar de modelos retrospectivos para modelos prospectivos ou ainda para modelos híbridos de remuneração.

Um dos desafios éticos que temos que transpor é risco de entendimento de que pagamento por performance vincula o ganho do médico ao resultado. Isso vai contra o artigo 62 do Código de Ética Médica. Outro ponto é a proibição do uso de CIDs nas trocas de informações entre os prestadores e os planos de saúde (o que de forma estranha não ocorre quando a troca de informações é feita para pacientes do SUS). Sem termos informações claras sobre as patologias em tratamento fica impossível monitorar sua evolução e conseqüente se o desempenho dos prestadores está sendo condizentes com as melhores práticas. Outro desafio ético observado é a difusão pública dos resultados. Tal prática é comum em vários países, como os EUA, França e Inglaterra, que adotam modelos de pagamento por performance ou de avaliação de desempenho.

No caso dos desafios de gestão que trazemos para discussão, percebemos que um deles refere-se ao entendimento pelos gestores de que a avaliação de desempenho é uma importante ferramenta para governança clínica (veja o artigo anterior). Outro desafio observado é a criação de modelos “caseiros” de avaliação de desempenho, sem critérios baseados em evidência ou ainda em modelos já existentes.

Quando falamos em desafios operacionais, percebemos as questões de cunho mais prático, mas que muitas vezes demandam grandes esforços para serem superados. O principal deles está nos sistemas de informações implantados. Geralmente são sistemas não integrados e que, na sua grande maioria, contém informações limitadas a custo e utilização. Mesmo em hospitais, boa parte deles tem foco no faturamento e não na gestão assistencial. Para complicar mais, as poucas informações existentes ainda tem baixa qualidade, pois os dados registrados na sua origem muitas vezes não são confiáveis, gerando indicadores questionáveis. E, finalmente, o uso de prontuários eletrônicos. Atualmente já existem bons prontuários eletrônicos, mas a sua implantação na prática tem sido muito difícil.

Mesmo com todos estes desafios, temos a convicção de que vale a pena implantar estratégias de avaliação de desempenho em saúde, pois as melhorias observadas, tanto para a instituição como para os profissionais e pacientes assistidos são gratificantes. Por Cesar Luiz Abicalaffe

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