"As operadoras de planos de saúde,
por seus abusos e intransigência nas negociações com os prestadores de
serviços, penalizam os beneficiários, daí a necessidade de intervenção
imediata do poder público"
Em tempos de greve dos Correios, da Polícia Federal, da Polícia
Rodoviária e outras categorias do funcionalismo público, os médicos de
planos de saúde de todo o País iniciam uma greve, de pelo menos quinze
dias, em defesa de reajuste médio de 50% na tabela de serviços e o fim
das intervenções que consideram antiéticas, que as operadoras estariam
exercendo para baixar os custos dos tratamentos prejudicando os
pacientes.
A medida vem sendo anunciada desde o último mês de agosto, quando os
médicos iniciaram negociações com as operadoras de planos de saúde a fim
de alcançarem a melhoria nos valores pagos aos profissionais da saúde,
em média de R$ 45,00 por consulta. Os médicos pretendem a criação de um
indexador que permita o reajuste da tabela de serviços com a mesma
periodicidade do aumento das mensalidades dos usuários.
Apesar das inúmeras tentativas de se chegar a um acordo com as
operadoras, muitos casos foram infrutíferos, mobilizando a categoria a
radicalizar com a greve suspendendo os atendimentos eletivos. O protesto
foi articulado por três entidades que representam a classe médica
nacionalmente: Conselho Federal de Medicina, Associação Médica
Brasileira e Federação Nacional dos Médicos.
A greve ocorrerá todo o País. Nos Estados do, Acre, Amazonas, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Norte e Rondônia a
paralisação ocorre em todos os convênios. Em outros oito Estados São
Paulo, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do
Sul e Santa Catarina a greve será parcial, atingindo operadoras que não
fecharam acordo. Já em sete outros Estados, Alagoas, Espírito Santo,
Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins a categoria ainda
irá decidir a forma da paralisação se total ou parcial. Somente nos
Estados do Amapá, Ceará, Distrito federal, Pará e Roraima, não haverá
greve face ao acordo firmado com as operadoras.
A preocupação dos médicos, no entanto, não se limita aos valores
defasados pagos pelas operadoras, mas em especial pelas chamadas
intervenções antiéticas exercidas pelas operadoras.
Segundo a categoria, os planos de saúde impedem a realização de tratamentos de alto custo, abreviam internações e pressionam os médicos a adotarem medidas de contenção que ameaçam a eficácia do tratamento dos pacientes.
Para o Conselho Federal de Medicina a saúde suplementar passa por
grave crise de credibilidade, levando os pacientes beneficiários dos
planos de saúde a se socorrerem do Sistema único de Saúde (SUS), onde as
filas estão cada dia maiores.
Com intuito de se evitar a falência do sistema de saúde suplementar,
os médicos vão adotar a greve como forma de pressionar não só as
operadoras para o atendimento das reivindicações, mas especialmente o
poder público. O objetivo e que o poder público faça uma intervenção
direta através de normativas que garantam a autonomia da relação
médico-paciente, além do estabelecimento de um sistema de contrato com
mínimo de garantias profissionais, e ainda o reajuste periódico na forma
como são realizados os reajustes da mensalidade.
O Senado Federal já possui propostas de leis que regulamentarão as
relações entre as operadoras e seus prestadores de serviços. Encontra-se
tramitando a PLS 165/2001, que propõe entre outras medidas a redução
das possibilidades de descredenciamento de médicos e instituições
hospitalares, hoje realizados quase sempre sem qualquer aviso. A PLS
380/2011 apresenta a questão do reajuste que ora é reivindicado pelos
médicos. Segundo o texto da norma, as mensalidades dos planos de saúde
deverão representar melhoria dos honorários pagos os profissionais de
saúde credenciados. Este projeto estabelece ainda que a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) estipule reajustes regulares para
procedimentos e eventos em saúde cobertos pelas operadoras.
Talvez o projeto de lei mais importante a ser apreciado pelo Senado
seja sem dúvida o PLS 475/2011, de suma importância aos pacientes e
médicos, pois aborda a necessidade de ser estabelecer os princípios
éticos no atendimento aos usuários, de forma a determinar que as
operadoras devam respeitar a integralidade das ações em saúde, de acordo
com a segmentação contratada; a atenção multiprofissional e a autonomia
e integridade física e moral das pessoas assistidas.
Mais uma vez as operadoras de planos de saúde, por seus abusos e
intransigência nas negociações com os prestadores de serviços, penalizam
os beneficiários, daí a necessidade de intervenção imediata do poder
público para frear essas empresas que visam apenas os lucros e não a
prestação da saúde suplementar de forma eficiente.
* Sandra Franco é sócia-diretora da
Sfranco Consultoria Jurídica em Direito Médico e da Saúde, do Vale do
Paraíba (SP), especializada em Direito Médico e da Saúde, membro efetivo
da Comissão de Direito da Saúde e Responsabilidade Médico- Hospitalar
da OAB/SP e Presidente da Academia Brasileira de Direito Médico e da
Saúde (ABDMS)
** Nina Neubarth é advogada, membro da Sfranco Consultoria Jurídica, especialista em Direito Público
Por Sandra Franco* e Nina Neubarth**
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