Companhia nasce com faturamento de
R$ 115 mi e promete trazer sistemas mais robustos aos prestadores. A
união deve acirrar a competição entre os players do mercado - como MV,
Wheb Philips e WPD Agfa.
A
proposta da tarde era o lazer. O golfe o responsável pela sensação de
descontração dos executivos Severino Benner e Paulo César Guimarães -,
respectivamente presidente e fundador da Benner Sistemas e CEO mundial
da portuguesa Alert. Apesar de já terem cumprido a bateria de reuniões
dos dias anteriores, proposta por um evento corporativo do setor,
realizado na Bahia há um ano e oito meses, a grande tacada dos negócios
ainda estava por vir. E o que parecia uma partida despretensiosa de
golfe, iniciou uma relação complementar.
“Você tem que me visitar lá em Portugal”, disse Guimarães. Benner
atendeu ao convite e, pouco tempo depois, em meados de maio, as empresas
de sistemas de gestão para saúde anunciavam a Joint Venture
Alert-Benner, que nasce com um faturamento de R$ 115 milhões e uma
projeção de R$ 300 milhões em três anos.
Há 15 anos no mercado, a Benner atua no segmento de sistemas de
gestão hospitalar, com grande expertise nas áreas administrativa e
financeira – principalmente no campo de operadoras, onde detém
aproximadamente 28% de market share.
Já a força da Alert está em soluções de prontuário eletrônico e
gestão clínica para hospitais. Facilitada por uma plataforma tecnológica
semelhante, a integração dessas soluções visa atender por completo os
processos de gestão de uma instituição de saúde, seja na esfera pública
ou privada.
“Na Alert não existia, por exemplo, o complemento do ERP (Enterprise
Resource Planning, em inglês). E a cada entrega, exigia-se mais um
fornecedor incorporado, dificultando os negócios. A decisão da joint
venture foi baseada na oferta de uma solução abrangente através de um
único fornecedor”, conta o diretor executivo da nova empresa, e também
diretor geral da Alert no Brasil, Luiz Brescia.
Além dos sistemas, a possibilidade de provimento de uma
infraestrutura de TI, contemplando data center, servidor, outsourcing e
cloud computing, se dá pelo fato de que a Benner pertence a Globalweb
Data Services – grupo a ser presidido por Severino. O executivo está em
fase de transição para o cargo.
“A figura do integrador é eliminada. Os integradores passam a ser nós mesmos”, explica Benner.
Impacto no setor
Tal fusão configura uma disputa travada por poucas empresas de
softwares de gestão hospitalar no País. A saúde é um dos setores mais
promissores para fornecedores de tecnologia e as organizações correm
para ganhar musculatura a fim de atender a crescente demanda. Paulo
Magnus, fundador e presidente da MV Sistemas – a maior concorrente da
Benner em saúde -, acredita que dos cerca de sete mil hospitais
brasileiros, apenas mil possuem uma informatização razoável; dos quais
uns 500 ou 600 têm um sistema de fato robusto. “Na área clínica talvez
tenhamos 5% dos hospitais com uma ferramenta clínica atuante”, afirmou o
executivo em entrevista concedida à revista CRN Brasil de fevereiro
deste ano.
Com um faturamento de R$ 100 milhões, a MV Sistemas, hoje, é líder
entre as maiores empresas nacionais de software, ofertando também um
conceito completo de gestão para hospitais e planos de saúde para os
cerca de 500 clientes espalhados pelo Brasil. Entretanto, com o advento
da Alert-Benner, a companhia de Magnus perde a primeira colocação no
aspecto faturamento. “A Joint Venture começa liderando e com o maior
portfólio do Brasil”, enfatiza Brescia.
Também protagonistas de recentes fusões, a empresa de diagnóstico por
imagem Agfa Healthcare – com a incorporação da brasileira WPD em
setembro de 2011 -, e a holandesa Philips – por meio da união com a
nacional Wheb Sistemas no final de 2010 -, devem sentir a força da
Alert-Benner no mercado.
De acordo com o anuário Série Estudos, publicado em dezembro pela
revista Tecnologia, a WPD aparece em segundo lugar – atrás da MV
Sistemas – e a Benner, em terceiro, seguida da Wheb Sistemas, no ranking
das dez maiores empresas do segmento.
As operações evidenciam a busca das multinacionais por fornecedores
de sistemas clínicos nacionais, com o intuito de atender a demanda por
uma solução integrada dos prestadores de saúde, tendo em vista a também
consolidação e verticalização de hospitais, laboratórios e operadoras.
Além do esforço do governo em promover atendimento estruturado por uma
rede de assistência.
De acordo com Severino Benner, o diferencial da Alert-Benner deve-se
ao fato de que ambas modernizaram suas plataformas tecnológicas antes
das demais. “Os fornecedores estão passando, agora, por um processo de
troca de tecnologia, fazendo o upgrade dos produtos. E tanto a Alert
quanto a Benner já estão em um estágio maduro e atualizado”, explica.
Para o consultor em TI, Gustavo De Martini, a consolidação do
segmento é positiva enquanto houver competitividade; e a probabilidade é
de que, cada vez mais, os pequenos desenvolvedores se estabeleçam em
nichos específicos.
O ganho de escala por meio das fusões e aquisições também contribui
para maiores investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o
que é essencial em um setor onde software como serviço (SaaS), uso de
dispositivos móveis e computação em nuvem despontam como tendência.
Nova estrutura
Apesar de a Alert estar presente em 12 países, as soluções
Alert-Benner serão voltadas para o mercado brasileiro e os esforços
iniciais serão concentrados no compartilhamento das estruturas
existentes de ambas as organizações, atualmente dispostas por São Paulo,
Maringá (PR), Belo Horizonte (MG), entre outros, contemplando 400
colaboradores. Os executivos mapeiam nova região para a construção de
mais um centro de desenvolvimento.
Reforçar a atuação nas regiões Sul e Sudeste é a prioridade inicial.
Outras praças serão trabalhadas via canais de distribuição, segundo
Lucrécia Oliveira, que comandará a estrutura financeira e de vendas da
Joint Venture, com sede na capital paulista.
Vantagens
Brescia é categórico ao dizer que o custo das instituições de saúde
vai diminuir. “Ao levar uma solução abrangente, que atende todas as
áreas dos hospitais, inclusive com infraestrutura para a execução do
software e suporte de manutenção, as unidades de saúde conseguirão uma
economia em escala de processos. Dessa forma, isso é acessível e
estratégico aos pequenos também, pois poderão se preocupar apenas com a
medicina, levando em conta que a mão de obra de profissionais
qualificados de TI é escassa”, enfatiza.
Na opinião de De Martini, o mercado de TI está amadurecendo e a
consolidação evidencia isso. “Gradativamente os prestadores vão
percebendo que a tecnologia faz parte dos processos de gestão”.
Em longo prazo, os impactos da nova Alert-Benner certamente serão
mensurados. Resta, agora, aguardar e elucubrar: será que a MV apostará
também em uma fusão ou em novas aquisições depois da formação da Wheb
Philips, WPD Agfa e Alert-Benner?
Por Verena Souza.
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