quarta-feira, 23 de maio de 2012

Alert e Benner anunciam Joint Venture

Companhia nasce com faturamento de R$ 115 mi e promete trazer sistemas mais robustos aos prestadores. A união deve acirrar a competição entre os players do mercado - como MV, Wheb Philips e WPD Agfa.


Alert Benner estimam alcançar um faturamento de R$ 300 milhões em três ano.


A proposta da tarde era o lazer. O golfe o responsável pela sensação de descontração dos executivos Severino Benner e Paulo César Guimarães -, respectivamente presidente e fundador da Benner Sistemas e CEO mundial da portuguesa Alert. Apesar de já terem cumprido a bateria de reuniões dos dias anteriores, proposta por um evento corporativo do setor, realizado na Bahia há um ano e oito meses, a grande tacada dos negócios ainda estava por vir. E o que parecia uma partida despretensiosa de golfe, iniciou uma relação complementar.

“Você tem que me visitar lá em Portugal”, disse Guimarães. Benner atendeu ao convite e, pouco tempo depois, em meados de maio, as empresas de sistemas de gestão para saúde anunciavam a Joint Venture Alert-Benner, que nasce com um faturamento de R$ 115 milhões e uma projeção de R$ 300 milhões em três anos.

Há 15 anos no mercado, a Benner atua no segmento de sistemas de gestão hospitalar, com grande expertise nas áreas administrativa e financeira – principalmente no campo de operadoras, onde detém aproximadamente 28% de market share.

Já a força da Alert está em soluções de prontuário eletrônico e gestão clínica para hospitais. Facilitada por uma plataforma tecnológica semelhante, a integração dessas soluções visa atender por completo os processos de gestão de uma instituição de saúde, seja na esfera pública ou privada. 

“Na Alert não existia, por exemplo, o complemento do ERP (Enterprise Resource Planning, em inglês). E a cada entrega, exigia-se mais um fornecedor incorporado, dificultando os negócios. A decisão da joint venture foi baseada na oferta de uma solução abrangente através de um único fornecedor”, conta o diretor executivo da nova empresa, e também diretor geral da Alert no Brasil, Luiz Brescia. 

Além dos sistemas, a possibilidade de provimento de uma infraestrutura de TI, contemplando data center, servidor, outsourcing e cloud computing, se dá pelo fato de que a Benner pertence a Globalweb Data Services – grupo a ser presidido por Severino. O executivo está em fase de transição para o cargo.

“A figura do integrador é eliminada. Os integradores passam a ser nós mesmos”, explica Benner.

Impacto no setor 

Tal fusão configura uma disputa travada por poucas empresas de softwares de gestão hospitalar no País. A saúde é um dos setores mais promissores para fornecedores de tecnologia e as organizações correm para ganhar musculatura a fim de atender a crescente demanda. Paulo Magnus, fundador e presidente da MV Sistemas – a maior concorrente da Benner em saúde -, acredita que dos cerca de sete mil hospitais brasileiros, apenas mil possuem uma informatização razoável; dos quais uns 500 ou 600 têm um sistema de fato robusto. “Na área clínica talvez tenhamos 5% dos hospitais com uma ferramenta clínica atuante”, afirmou o executivo em entrevista concedida à revista CRN Brasil de fevereiro deste ano.

Com um faturamento de R$ 100 milhões, a MV Sistemas, hoje, é líder entre as maiores empresas nacionais de software, ofertando também um conceito completo de gestão para hospitais e planos de saúde para os cerca de 500 clientes espalhados pelo Brasil. Entretanto, com o advento da Alert-Benner, a companhia de Magnus perde a primeira colocação no aspecto faturamento. “A Joint Venture começa liderando e com o maior portfólio do Brasil”, enfatiza Brescia. 

Também protagonistas de recentes fusões, a empresa de diagnóstico por imagem Agfa Healthcare – com a incorporação da brasileira WPD em setembro de 2011 -, e a holandesa Philips – por meio da união com a nacional Wheb Sistemas no final de 2010 -, devem sentir a força da Alert-Benner no mercado.      

De acordo com o anuário Série Estudos, publicado em dezembro pela revista Tecnologia, a WPD aparece em segundo lugar – atrás da MV Sistemas – e a Benner, em terceiro, seguida da Wheb Sistemas, no ranking das dez maiores empresas do segmento.

As operações evidenciam a busca das multinacionais por fornecedores de sistemas clínicos nacionais, com o intuito de atender a demanda por uma solução integrada dos prestadores de saúde, tendo em vista a também consolidação e verticalização de hospitais, laboratórios e operadoras. Além do esforço do governo em promover atendimento estruturado por uma rede de assistência.

De acordo com Severino Benner, o diferencial da Alert-Benner deve-se ao fato de que ambas modernizaram suas plataformas tecnológicas antes das demais. “Os fornecedores estão passando, agora, por um processo de troca de tecnologia, fazendo o upgrade dos produtos. E tanto a Alert quanto a Benner já estão em um estágio maduro e atualizado”, explica.

Para o consultor em TI, Gustavo De Martini, a consolidação do segmento é positiva enquanto houver competitividade; e a probabilidade é de que, cada vez mais, os pequenos desenvolvedores se estabeleçam em nichos específicos.

O ganho de escala por meio das fusões e aquisições também contribui para maiores investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o que é essencial em um setor onde software como serviço (SaaS), uso de dispositivos móveis e computação em nuvem despontam como tendência.  

Nova estrutura 

Apesar de a Alert estar presente em 12 países, as soluções Alert-Benner serão voltadas para o mercado brasileiro e os esforços iniciais serão concentrados no compartilhamento das estruturas existentes de ambas as organizações, atualmente dispostas por São Paulo, Maringá (PR), Belo Horizonte (MG), entre outros,  contemplando 400 colaboradores. Os executivos mapeiam nova região para a construção de mais um centro de desenvolvimento.   

Reforçar a atuação nas regiões Sul e Sudeste é a prioridade inicial. Outras praças serão trabalhadas via canais de distribuição, segundo Lucrécia Oliveira, que comandará a estrutura financeira e de vendas da Joint Venture, com sede na capital paulista.   

Vantagens 

Brescia é categórico ao dizer que o custo das instituições de saúde vai diminuir. “Ao levar uma solução abrangente, que atende todas as áreas dos hospitais, inclusive com infraestrutura para a execução do software e suporte de manutenção, as unidades de saúde conseguirão uma economia em escala de processos. Dessa forma, isso é acessível e estratégico aos pequenos também, pois poderão se preocupar apenas com a medicina, levando em conta que a mão de obra de profissionais qualificados de TI é escassa”, enfatiza.

Na opinião de De Martini, o mercado de TI está amadurecendo e a consolidação evidencia isso. “Gradativamente os prestadores vão percebendo que a tecnologia faz parte dos processos de gestão”. 
Em longo prazo, os impactos da nova Alert-Benner certamente serão mensurados.  Resta, agora, aguardar e elucubrar: será que a MV apostará também em uma fusão ou em novas aquisições depois da formação da Wheb Philips, WPD Agfa e Alert-Benner?

Por Verena Souza.

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